quarta-feira, 7 de janeiro de 2009



07 de janeiro de 2009
N° 15841 - MARTHA MEDEIROS


Queridos amigos, de novo

Insistindo no assunto: domingo passado elogiei a minissérie Queridos Amigos, que assisti em DVD quase um ano depois de ela ter ido ao ar. O motivo da crônica era aproveitar essa época de troca de presentes para salientar que bom mesmo é receber algo que faz a gente refletir e se emocionar, como filmes, livros, discos. Não que joias e passagens aéreas sejam desprezíveis. Crise, que crise?

Mas muitos me perguntaram: por que gostei tanto, afinal? Um dos motivos eu já disse: porque enaltece a amizade, e não estou falando de qualquer “oi, tudo bem?” que a gente troca no meio da rua, mas da amizade fundamentada em alicerces sólidos, construída com o tempo, coisa que dificilmente um orkut possibilita (admito, porém, que já iniciei três ou quatro excelentes amizades por e-mail, com desdobramentos ao vivo e a cores).

Outra razão: a história se passa em 1989, ou seja, na idade da pedra, quando ainda se usava máquina de escrever, se falava em orelhão, se ouvia disco de vinil e se era mais politizado.

É tocante ver o drama daqueles amigos que vivenciaram a ditadura tendo que se confrontar com o iminente desaparecimento do idealismo, coisa que acabou se estabelecendo em definitivo entre nós.

Qual é a nossa causa, hoje? Por quem a gente luta? Sejamos honestos: pelo nosso bem-estar e por mais nada. Viramos uns individualistas que até se comovem com o menino miserável que faz malabarismo na sinaleira, mas já não somos capazes de nos mobilizar, de brigar.

Temos consciência ecológica, torcemos pelo Obama, mas são fenômenos midiáticos que não sei até onde nos mobilizam de fato ou simplesmente nos levam de roldão.

Eu me lembro que chorei quando as diretas-já não passaram em 1984, lembro do meu desapontamento quando Tancredo morreu e da minha alegria com o impeachment do Collor, mas a partir daí meus sentimentos foram sendo neutralizados e acabei sendo absorvida por um certo desencantamento, e espero que o nome disso não seja maturidade.

Queridos Amigos é uma bofetada naqueles que chegaram a cantar com Cazuza “ideologia, eu quero uma pra viver”, mas que seguiram vivendo numa boa sem ela.

E como se essas reflexões e alertas não bastassem, a minissérie também é um tratado sobre as relações íntimas e afetivas, sobre como ficamos desarmados diante da traição, da rejeição, do abandono, não importa o quão inteligentes e modernos sejamos – assuntos do coração fragilizam a todos, e talvez esta seja, hoje, a única dor que nos unifica.

Mas quem quer saber disso em tempos de Zorra Total?

Aproveite o dia - Uma ótima quarta-feira para você.

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