quarta-feira, 12 de novembro de 2008



12 de novembro de 2008
N° 15787 - MARTHA MEDEIROS


Literatura menor

Um estudante de Letras me solicitou uma entrevista por e-mail que, prontamente, aceitei responder. A primeira pergunta: “A literatura de mercado é literatura mesmo?”.

Depois de 18 livros publicados, pela primeira vez entrei numa lista nacional de best-sellers. Se eu tivesse complexo de perseguição, poderia achar que fui escolhida para essa entrevista para que o garoto recebesse, direto da fonte, um panorama da pior literatura do mundo. Ainda bem que minha auto-estima está ok.

Imagino que “literatura de mercado” seja aquela que vende bem, ao contrário da literatura “artística”, que mofa nas estantes. Será? Até onde sei, toda literatura é de mercado, e dela fazem parte tanto os livros bem escritos quanto os mal escritos. Se vende, é ruim? Se não vende, é bom? Me parece um pouco simplista. Segunda pergunta:

“Qual a razão do sucesso desse tipo de literatura?”.

Creio que os leitores preferem ler algo que entendam e que seja de seu gosto, mas vá discutir gosto. O que é preciso lembrar é que um autor não produz esse tipo de literatura de caso pensado.

Alguns acreditam que basta escrever um texto fácil, de identificação imediata, e depois é só aguardar as moedas caindo na piscina, feito um tio Patinhas.

Fosse moleza assim, os “escritores artísticos” se valeriam do mesmo truque (criando um pseudônimo, lógico) e ficariam milionários da noite pro dia. Por que isso não acontece? Porque cada um escreve do jeito que sabe. Eu não sei escrever como Clarice Lispector.

Se soubesse, era o que estaria fazendo. Ninguém escreve fácil de propósito, só para estourar. Ou teríamos um Paulo Coelho em cada esquina. Quem não gostaria de possuir um apartamento em Paris onde é possível praticar arco e flecha no corredor?

Há os que exercem o dom da comunicabilidade sem abrir mão da sua honestidade artística. Não há nenhuma garantia de qualidade nisso, mas não se pode duvidar do caráter de quem vende direitinho.

“Acredita que a literatura de mercado tem como mérito a formação de novos leitores?” Sem dúvida. Eu, por exemplo, virei uma leitora através de Monteiro Lobato, que era muito popular quando eu era criança, o que o enquadraria em literatura de mercado, suponho.

“A literatura menor pode incentivar leituras de obras maiores?”

Sim, um leitor pode começar lendo a mim e chegar a García Márquez. Mas o que importa é que tenha prazer pela leitura, o que já é um avanço num país de iletrados, onde milhões de pessoas nunca seguraram um livro.

“A literatura séria está fadada ao desaparecimento?”

Vivemos na eterna expectativa do apocalipse. A humanidade é viciada em previsões catastróficas, sempre profetizando o fim do sublime.

Humildemente, acho que ninguém tem procuração para sacramentar o que é “sério” – e muito menos para tornar essa seriedade inquestionável. Já ouvi o genial Ferreira Gullar dizer que acha Beckett um chatonildo.

Ou seja, é importante estudar teoria da literatura, desde que ninguém seja catequizado. Opinião pessoal também conta.

Ótima quarta-feira - Aproveite o dia

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