segunda-feira, 10 de novembro de 2008



10 de novembro de 2008
N° 15785 - LIBERATO VIEIRA DA CUNHA


Da fama e do dinheiro

Success. É com essa brevíssima palavra que Somerset Maugham conta a si mesmo, em seu diário (A Writer’s Notebook), que se tornara rico e famoso do dia para a noite. Quatro de suas peças atraíam multidões aos teatros de Londres e lhe rendiam, há precisamente cem anos, 750 libras por semana, uma fortuna em qualquer moeda na época.

Eis aí um tema que sempre me despertou curiosidade. A trajetória de alguém deve ser medida por seu êxito e sua fortuna no caminho que escolheu? No caso do velho bruxo inglês não sucedeu exatamente assim.

Ganhou rios de dinheiro num gênero ao qual não atribuía grande importância: a dramaturgia. Era um romancista e – quilômetros além disso – um contista.

Os críticos jamais lhe perdoaram um deslize: converteu-se num milionário com o produto de seus livros. Ainda existe aliás uma bem orquestrada conspiração para sentenciá-lo ao posto de um escriba de terceira categoria.

Creio que Erico Verissimo e a Editora Globo foram dos raros a intuir, no Brasil da década de 30, que o autor de O Fio da Navalha e O Tesouro se alinhava à estirpe de um Fielding ou de um Maupassant.

Esses tempos, procurei visitar a Villa Mauresque, sua casa na Riviera Francesa. Dois obstáculos me impediram a entrada: os muros da mansão e um guia americano, cavalheiro que demonstrou tanto interesse pela literatura quanto eu tenho pela malacologia.

Mas aqui dou meia-volta e retomo o prumo destas poucas e maltraçadas. Não, não creio que o êxito e a riqueza devam ser norte e guia da jornada de um escritor. Maugham observou apenas a esse respeito que o dinheiro é o sexto sentido que nos permite desfrutar melhor dos outros cinco.

Acumular cabedais e aplausos é por vezes questão de sorte ou de berço. Bem mais raramente, o prêmio ao talento ou ao gênio.

William Somerset Maugham é hoje recordado por uma dezenas de criações imortais, a começar por Servidão Humana, não pelo requinte de Villa Mauresque, a tonelagem de seu iate ou o número de Rolls Royces estacionados em sua garagem. Tenho visto velhos exemplares de suas obras nos balaios da Feira. Há sempre compradores para eles.

O que me leva a pensar que o destino é um deus caprichoso. Recompensa com a glória quem jamais sonhou com ela e trata a pão e água quem lhe vota a mais intensa paixão.

Uma ótima segunda-feira e uma excelente semana.

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