sábado, 1 de novembro de 2008



02 de novembro de 2008 | N° 15777AlertaVoltar para a edição de hojeMARTHA MEDEIROSmar­thamedeiros@terra.com.br

Nadismo e tudismo

N o final de semana passado fui à festa de comemoração dos 30 anos de formatura do colégio Bom Conselho. As dinossauras estão todas bonitas e em forma, aviso antes das piadinhas.

A gente se divertiu à beça, mas o grande momento foi o discurso da Irmã Nazaré, que nos idos tempos escolares controlava quem matava aula e outros crimes dessa natureza, e que hoje, aos 85 anos, esbanja lucidez, energia e bom humor. Qual o segredo da sua vitalidade, Irmã?

– Eu não me preocupo. Eu me ocupo.

Não posso deixar de lembrar dessa resposta ao escrever sobre o assunto de capa de hoje, o Nadismo, prática difundida pelo Marcelo Bohrer, que prega a importância de não se fazer nada por alguns minutos durante o dia.

É uma proposta original e bem-vinda, porque a gente sabe o quanto é importante dar uma parada e quebrar o ritmo alucinante da nossa rotina, mas acredito que também é possível conjugar o verbo “fazer” com “relaxar”.

Meu nadismo só acontece, pra valer, durante o sono. Do momento que acordo em diante, nunca fico ao léu.

Quando não estou trabalhando ou envolvida com outra atividade obrigatória, estou lendo um livro, estou fazendo palavras cruzadas, estou revendo fotos, estou conversando com uma amiga, estou arrumando meus armários, estou assistindo a um DVD, estou retocando o esmalte das unhas, estou baixando músicas no meu iPod,

estou namorando, estou tomando um banho relaxante, estou conversando com minhas filhas, estou caminhando no parque, estou tomando um chá, estou assistindo a uma entrevista na tevê, estou me bronzeando, estou regando as flores.

Sou adepta de um nadismo produtivo, que me relaxa mais do que se eu estivesse sentada olhando para o infinito, inerte. Até lavar louça me parece algo repousante e terapêutico.

Ativar-me não faz de mim uma ansiosa, porque me ocupo com coisas que me dão prazer. Luxo, para mim, é dar bom uso às minhas horas, e consigo isso inclusive trabalhando. A minha revolução particular se deu através da prática de um “tudismo” focado no meu bem-estar e no das pessoas que convivem comigo.

Eu sei que pareço uma pessoa excessivamente plugada, e tenho realmente uma série de compromissos a cumprir, mas não sou refém deles: aprendi a dizer não, e digo.

Ter que ganhar dinheiro nunca me escravizou, e mesmo tendo contas pra pagar, como todos, não me sinto intimada a fazer coisas que não gosto. Nunca fui ambiciosa a ponto de me esgotar.

Aos que não têm pleno domínio do seu tempo, recomendo o livro do Marcelo e suas dicas para desacelerar, mas, por enquanto, não sinto necessidade de marcar um horário para me desconectar do mundo.

Meu esforço, ao contrário, deveria ser para me reconectar, porque minha mente anda cada vez mais afastada de tudo o que estressa.

Se filosofia e religião possuem algum parentesco - e acredito que possuem -, vou me manter discípula da filósofa Irmã Nazaré, me ocupando com coisas simples para viver mais e melhor, amém.

Um ótimo domingo especialmente a você.

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