sábado, 5 de julho de 2008

A aurora dos cinqüentões

Eles têm experiência e vitalidade.

Em vez de esperarem passivamente pela velhice, criam seus próprios negócios, estudam para manter a mente ativa e enveredar por outra profissão. Também se divertem na intimidade. No Brasil de hoje, o 50 é o novo 40

Quando se trata de desfrutar a vida com as vantagens da maturidade, mas a uma distância ainda segura dos desconfortos da velhice, o 50 é o novo 40.

Ou, dito de outra maneira: a combinação de experiência e vitalidade que até pouco tempo atrás caracterizava os quarentões agora também distingue homens e mulheres que ultrapassaram a barreira dos 50 anos.

A explicação de fundo para isso é, digamos, de saúde pública: as pessoas estão vivendo mais, e envelhecem melhor. As conseqüências da mudança são as mais diversas. Fazem-se sentir no mercado de trabalho, nas universidades, na vida privada.

As próximas páginas mostram que, hoje, cinqüentões trocam de bom grado o pijama de aposentado (ou a perspectiva iminente de vesti-lo) pela ousadia de abrir uma empresa – ou então preenchem vagas de destaque, e muito bem remuneradas, num mercado carente de mão-de-obra qualificada. Seu contingente aumenta nas carteiras do ensino superior, no qual eles são calouros com pinta de veteranos.

E, como não poderia deixar de ser, gente madura que faz ioga, musculação ou corrida, ainda que não exiba as formas extraordinárias da cinqüentona Madonna, fica bem mais à vontade entre quatro paredes.

As reportagens a seguir confirmam, enfim, que um número crescente de pessoas dá valor à bagagem de vida que acumularam. Como disse o satirista inglês P.G. Wodehouse, elas sabem que não existe cura verdadeira para os cabelos grisalhos – e, por isso mesmo, fazem deles o melhor uso possível.

Velhice? fica para mais tarde

Com cuidados estéticos, alimentação saudável e atividade física, quem faz 50 anos (e não parece) adia a hora de envelhecer

Silvia Rogar e Sandra Brasil

Tony Barson/Wireimagem/Getty Images

Old girl, jamais: fanática por exercício físico e empenhada em disfarçar todo e qualquer sinal da idade, Madonna chega ao meio século em pleno palco, pulando, dançando, cantando e se contorcendo de maneira insinuante

No dia 23 de agosto, Madonna estará dançando, pulando e se contorcendo de maneira insinuante em Cardiff, País de Gales, a primeira parada de sua turnê com o novo show, Sticky & Sweet, que vai até o fim de novembro.

Será, a essa altura, uma senhora de 50 anos, idade que completa uma semana antes, no dia 16. Isto mesmo: Madonna, a loira de músculos definidos, magérrima e conservadíssima, é cinqüentona.

Sua figura é produto de uma dose excepcional de disciplina (e de exercícios), mas estar bem na sua idade não tem nada de incomum. Só no mundo dos artistas, onde imagem não é tudo mas chega perto, também acabam de dobrar o cabo dos 50 anos as atrizes Sharon Stone (em março) e Michelle Pfeiffer (em abril), beldades de parar o trânsito em qualquer tapete vermelho.

Ultrapassou a mesma barreira no ano passado a atriz Christiane Torloni, que na novela das 7 da Rede Globo, Beleza Pura, disputa com a própria filha o amor de Guilherme (Edson Celulari, 50 em março).

Como comprovam as contas do dermatologista, da academia e da farmácia, as mulheres precisam se dedicar com afinco à missão de estar bem na metade da vida. Homens, um pouco menos, para a eterna inveja delas.

Como cabelo grisalho e rugas discretas nunca foram impedimento para o sucesso social masculino, permanecem galãs apesar (ou por causa) da idade madura os irresistíveis Pierce Brosnan, um poço de charme aos 55, Richard Gere, inalterável jeitinho carente aos 58, e José Mayer, que, aos 59 e longe de sua melhor forma (por força do papel, ressalte-se), anda aos beijos com Juliana Paes em A Favorita, folhetim das 8 da Globo.

Com ou sem muito esforço, o fato é que a população de meia-idade (termo, por sinal, cada vez mais impopular) envelhece (mais impopular ainda) com muito menos marcas, internas e externas, do que seus pais.

Reginaldo Teixeira
Lalo Yasky/Wireimage/Getty Image




Galã em qualquer situação: Mayer, 59, faz papel de hippie desleixado. Mesmo assim, beija Juliana Paes Quanto mais velho, melhor: Gere, 58, rugas e cabelo branco. E as mulheres ainda querem pôr no colo

Cinqüentões hoje adotam hábitos alimentares mais saudáveis (quem é do grupo e não usa adoçante, inclusive na caipirinha, levante a mão) e põem o corpo para trabalhar, em academias e em treinos de corrida.

"A turma na faixa dos 50 anos foi a que mais cresceu nas nossas escolas. Em 1993, essas pessoas representavam menos de 4% do total. Hoje são 13%", diz Richard Bilton, presidente da Companhia Athletica, a maior rede de academias do Brasil.

Ao cuidarem da forma, os atletas maduros incrementam sua vida social. Em outras palavras: treino físico também é badalação. A corrida é seguida de jantar com os amigos – quando não significa uma viagem em grupo.

Danilo Borges
A vaidade compensa: Christiane, 51, disputa o mesmo homem com a filha (na novela). Deve ganhar

Lailson Santos

Arvorismo nas horas vagas: Flor, 53, e Silva, 55, namoraram, se separaram, se reencontraram, voltaram a namorar, foram morar juntos e vão se casar. "Quero ter saúde para curtir tudo o que pudermos por mais trinta, quarenta anos", diz ela

"Minha mulher não quer saber de correr, mas adora me acompanhar nas viagens", diz o executivo gaúcho Paulo Tonding, 54 anos, corredor há quatro. Tonding aderiu a esse esporte por recomendação médica – era hipertenso e tinha colesterol alto.

"De cada dez pessoas com mais de 50 que nos procuram, oito foram aconselhadas pelo médico a perder peso e praticar atividade física", observa o preparador físico Mario Sergio Andrade Silva, dono da Run&Fun, de São Paulo, onde 11% dos alunos estão nessa faixa de idade.

"Eles são os mais dedicados, porque sabem o que querem", diz Andrade Silva. Tonding, por exemplo, quer acumular medalhas de participação: já tem 83, entre elas as de cinco meias maratonas e as de três maratonas inteiras.

No momento, prepara-se para a maratona de Nova York, em novembro, para onde embarca com a mulher, Jussara, o filho, a filha e namorados. "Eles me aplaudem na chegada e eu ofereço a eles uma semana de turismo", diz.

Inevitavelmente, a boa disposição aos 50 anos produz ondas gigantes no mar dos relacionamentos, como comprovam a explosão de casamentos (mais 113% eles, mais 131% elas) e a de separações (mais 55% no total) nos últimos dez anos (veja o quadro). "É uma mudança que acompanha o aumento da expectativa de vida", diz a psiquiatra Carmita Abdo, da Universidade de São Paulo.

Carmita publicou no ano passado os resultados de uma pesquisa realizada com 10 161 pessoas com idade média de 52 anos. Pois 96,8% dos homens e 77,6% das mulheres se disseram sexualmente ativos nos doze meses anteriores. "Como um cinqüentão não aparenta a idade, nem se sente velho, sua vida afetiva está em aberto.

Ele precisa reinventar continuamente um casamento que ainda vai durar décadas, ou buscar novos caminhos", afirma a psiquiatra. Entre as mulheres, as mudanças são mais notáveis. "Elas estão mais confiantes e confortáveis.

A grande novidade está na palavra ‘opção’. Hoje as mulheres de 50 podem escolher o que querem fazer", diz a psicóloga americana Nancy Etcoff, professora da Universidade Harvard, que coordenou uma pesquisa entre quase 1 500 mulheres de 50 a 64 anos em nove países, inclusive o Brasil, encomendada pela Dove, marca de produtos de higiene e beleza, para identificar a imagem que elas têm de si mesmas. Conclusão: a imagem é positiva, embora morram de medo de engordar.

E elas juram que têm orgulho da idade (veja o quadro).

Lailson Santos
Arvorismo nas horas vagas: Flor, 53, e Silva, 55, namoraram, se separaram, se reencontraram, voltaram a namorar, foram morar juntos e vão se casar. "Quero ter saúde para curtir tudo o que pudermos por mais trinta, quarenta anos", diz ela

Boa forma, boa viagem:

Tonding, 54, treina corrida, coleciona medalhas e se prepara para a maratona de Nova York, para onde vai com a família toda. "Eles me aplaudem na chegada e eu ofereço a eles uma semana de turismo", diz

Exemplo da disposição para encarar mudanças radicais, a paulistana Flor Mascarenhas, maquiadora de filmes publicitários, 53 anos, de bem com a idade ("Não ando mais de minissaia, mas também não me escondo num tailleur"), reencontrou há quatro anos um namorado da adolescência, o analista de sistemas Antônio Carlos da Silva, 55 – ela, sozinha, ele enredado num casamento malsucedido.

Silva se separou, foram morar juntos e neste ano, pela primeira vez, Flor vai se casar no papel. "Casar marcará esse reinício de vida", resume Silva, que com a mulher pratica mergulho e arvorismo nos fins de semana.

"Quero ter saúde para curtir tudo o que pudermos por mais trinta, quarenta anos", diz ela. E assim, pouco a pouco, o caminho já andado se transforma em alvorada de uma longa e profícua segunda metade da vida.



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