sábado, 5 de abril de 2008



05 de abril de 2008
N° 15562 - Nilson Souza

Metamorfoses


A menina dos meus olhos está completando 15 anos neste sábado em que descarrego minha mudança de letrinhas num novo dia e numa nova página.

Quem acompanha há mais tempo esta crônica despejada das quintas-feiras sabe que a anônima jovenzinha já foi personagem de outros relatos neste espaço em que - a custa de auto-análise e contrariando o catecismo da objetividade jornalística - ouso exercitar a primeira pessoa do singular.

Mas o "eu", como ensina o mestre Scliar, só tem sentido quando significa "nós". Assim, sempre que registro alguma experiência pessoal ou falo de meus afetos mais caros, esforço-me para torná-los universais, de modo que ao menos alguma palavra toque o coração de quem lê.

Pois hoje volto a falar de Daniele, que é loira, linda e está passando pela metamorfose do seu 15º outono. Acompanho-a desde o seu nascimento. Carreguei-a no colo muitas vezes, embalei seus sonos e seus sonhos outras tantas.

Vi-a crescer, dar os primeiros passos, pronunciar as primeiras palavras, aprender a ler e a escrever. Na condição de padrinho desta filha do coração, fui testemunha diária e privilegiada de sua infância rica de descobertas.

Também tive a bênção de vê-la transformar-se, do dia para a noite, numa adolescente sensível, determinada e vaidosa. Passou a vestir-se com apuro, a pintar unhas e lábios, a fazer suas próprias escolhas, felizmente para os que a amam, quase sempre sensatas.

Mesmo em meio ao turbilhão de hormônios e fantasias da idade, jamais descuidou-se, por exemplo, de suas obrigações escolares. Acompanhei, com indisfarçável orgulho, seu crescimento intelectual e emocional.

E sempre que julguei oportuno, compartilhei com meus leitores alguns passos de sua caminhada, supondo que assim estaria retratando infâncias e adolescências semelhantes.

Hoje encaro outra transformação. Percebo, inquieto, no cristal esverdeado de seu olhar, uma mulher bela e misteriosa preparando-se para alçar vôo da plataforma dos seus sapatos de festa.

Cumpre-se, assim, a inexorável previsão. Eu já sabia, por alertas e também por intuição, que um dia a borboleta criaria asas para voar no rumo de seu próprio destino. Não posso nem quero retê-la.

Posso, apenas, seguir seu vôo com estes olhos que já há muito lhe pertencem.

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