quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008


Elio Gasperi

O BRASIL PRECISA COMEÇAR A DEPORTAR

Peter Collecott, o embaixador de Sua Majestade Britânica, precisa se acautelar. Duzentos anos depois de sua primeira visita ao Brasil, lorde Strangford está armando encrencas com Pindorama.

Só pode ser dele a idéia de criar juntas de triagem para os nativos que desejam visitar o Reino Unido.

Do jeito que as coisas estão, de cada cem brasileiros que compram passagem e descem no aeroporto de Londres, três são deportados. Em 2006, foram 4.985 mil, conforme revelou o repórter Rafael Cariello.

Lorde Strangford foi um craque. Arrancou de dom João VI um tratado que, entre outras coisas, deu aos ingleses residentes na terra o privilégio de serem julgados por tribunais formados por compatriotas.

Agora, ele quer criar juntas inglesas para julgar brasileiros em aeroportos brasileiros. Deve ser mágoa das chicotadas que levou de um estribeiro de dona Carlota Joaquina.

Os acordos firmados pelos governos das duas nações dizem que os brasileiros não precisam de visto para entrar na Grã-Bretanha, nem os ingleses para vir para cá.

Como há milhares de nativos interessados em entrar na Inglaterra, ou em outros países da Europa, em busca de trabalho e sem a devida documentação, os governos se protegem. A Polícia dos aeroportos faz a triagem no olho e pede provas de que o viajante não está mal-intencionado.

Essas exigências variam de país para país e vão da passagem de volta ao comprovante da reserva de hotel, passando por dinheiro no bolso e até demonstração do propósito da viagem. As sentenças dos guardas são quase sempre irrecorríveis e, às vezes, néscias.

É direito de ingleses, espanhóis e europeus em geral recusar o ingresso de estrangeiros. Quanto a isso, nada há a fazer.
Nada mesmo?

Talvez haja. Basta criar um sistema de reciprocidade. Quando um avião da British Airways descer em Guarulhos, pede-se aos passageiros que mostrem reserva de hotel, passagem de volta e uma quantia em dinheiro vivo.

Não tem? Volta, mesmo que seja um físico a caminho da Argentina para uma palestra. Pode-se fazer o mesmo com o vôo seguinte, da Iberia. Por cortesia, os deportados ficariam sempre num patamar equivalente à metade dos brasileiros punidos.

Se esse remédio parecer radical, o Itamaraty pode informar aos embaixadores Collecott e Peidró Conde, da Espanha, que a reciprocidade só será aplicada em 2009.

Até lá, ingleses e espanhóis, que não estiverem com a papelada em ordem, serão convidados a assinar a seguinte declaração:
'Cheguei a este aeroporto sem os documentos necessários para atender às exigências que o governo do meu país impõe aos brasileiros.

Em nome das boas relações entre os dois povos, solicito, pela presente, que seja dispensado desse procedimento.'
Assinou, fica. Não assinou, volta.

Lorde Strangford ameaça restabelecer a necessidade do visto. Se esse for o único caminho, nada a fazer, pois é preferível ser obrigado a solicitar o carimbo dos ingleses (exigindo a mesma coisa deles) do que ser tratado como vagabundo, ou vagabunda, por Polícia de aeroporto.

Em tempo: por mais que os europeus azucrinem os brasileiros, nada os aproxima da inépcia dos serviços consulares americanos.

Eles exigem que os nativos peçam visto e avisam que a demora para marcar uma entrevista está em 109 dias no Rio de Janeiro.

A espera em Pequim é de 15 dias, em em Buenos Aires, de dois.

Pois é... olho por olho, dente por dente, não é assim...? Uma ótima quarta-feira esta que marca o Dia Internacional do Sofá.

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