quarta-feira, 2 de janeiro de 2008



02 de janeiro de 2008
N° 15466 - Martha Medeiros


Nunca subestime uma formiga

Ela é das grandes. Daquelas bem pretas. Vem caminhando em cima da minha escrivaninha, rumo ao teclado do meu computador, como se tivesse perdido o celular em algum lugar.

Ela olha para um lado e para o outro freneticamente - formigas não são cegas, como se sabe. E não usam celular, foi uma brincadeira.

Mas que ela está procurando alguma coisa, está. Um farelo, um grão, um filho. Finjo que não estou prestando atenção, mas não tiro o olho da bichinha, inscluve etsou escrnevdo tduo errdao.

Lá vem ela com passinhos ligeiros e pimba: subiu no teclado, está tentando se enfiar entre o F1 e o F2, mas lhe dou um peteleco bem mirado.

Ela volta cambaleando pra mesa e nem acusa o golpe, segue serelepe da vida. Só há um jeito. Vou matar. Sim, vou matar bem matadinha, vou entrar pro Bope e esmagá-la - argh, que nojo. Ao menos não é uma barata.

Pego uma folha pequena, arrancada de um bloco de recados. É suficiente para prensar esta desvairada contra a mesa. Depois é só dobrar o papel, limpar alguma gosminha que reste no local do crime e estará feito o serviço. Sem testemunhas. Como sou malvada.

Quando coloco o papel sobre ela, no entanto, o plano dá errado. Ela enxerga o papel! E isso não é o que mais me surpreende. Que ela não era cega, sempre soube. Só não sabia que era instintiva!

Ela entende que aquele papel sobre sua cabeça não é um zepelim planando, não é um guarda-chuva, não é uma nuvem: é uma ameaça de morte.

Ela sabe que está correndo perigo. Sabe a diferença entre viver e morrer, e não quer morrer, lógico. Então ela corre feito um maratonista e desaparece embaixo da minha impressora. Danada. Quer guerra? Pois bem.

Passados cinco intermináveis minutos, quem eu vejo saindo por baixo da impressora? Ela. Reconheceria a quilômetros. Resolvo mudar de tática: nada de folha de papel. Vou usar um livro. Isso, vou abrir um livro, fingir que estou lendo e assim que ela me der as costas, pá.

Peguei o Guia Prático do Português Correto, era o que eu tinha à mão ao lado do computador. Sim, também tenho minhas dúvidas gramaticais. Livro de bolso, pequeninho, vai ser uma barbada.

Onde está ela, onde está? Ali. Não consigo evitar de dizer em voz alta: "Você já era, sua metida. JÁ ERA!" Então ela, que até então estava andando por ali bem tranqüila, acelerou as patinhas e se mandou num flash. Sumiu. Escafedeu-se.

Que não são cegas, sabia-se. Que são inteligentes, foi uma descoberta. Mas que entendem o que a gente fala, foi de estarrecer.

Ótima quarta-feira, excelente primeira semana e que 2008 seja de muitas realizações para todos nós.

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