quarta-feira, 10 de outubro de 2007



10 de outubro de 2007
N° 15383 - Martha Medeiros


Futebol feminino

Não há quem não vibre com a eleição de "Magic" Marta como a nova fera do esporte nacional. Salve minha xará, a Marta boa de drible, a Marta que se consagrou como a melhor jogadora de futebol feminino do mundo.

No entanto, mesmo entre os brasileiros fanáticos por bola, ainda há dificuldade em se considerar o futebol feminino um belo espetáculo. Não é uma questão de preconceito e falta de visão, como uma análise apressada poderia julgar.

Talvez o futebol feminino venha a ser um esporte popular e difundido mundialmente, gerando ídolos, patrocínios milionários e altas audiências. Mas quem realmente aposta nisso?

Obviamente que o nosso futebol feminino pode se profissionalizar, bastando que as empresas invistam, que sejam organizados mais torneios e que se transmitam os jogos pela tevê. Craques já temos.

Porém, quase ninguém discute um aspecto importante da questão, justamente aquele que resvala para o politicamente incorreto: esporte, mais do que nunca, é espetáculo e depende da imagem. E futebol é um esporte viril. Tanto ou mais que o halterofilismo ou o boxe.

É sabido que as mulheres podem ser iguais ou melhores que os homens em talento, conhecimento, desempenho, inteligência, determinação.

Não temos diferenças no que concerne à nossa mente e capacidade. Mas nossos corpos são distintos. E quando um esporte "viriliza" o jogo de corpo feminino, cria-se um impasse.

É bacana ver uma mulher ser combativa na vida, lutando pelos seus ideais, conquistando seus direitos. Mas quando o combate conduz à masculinização do físico e dos gestos (em campo, saliento), perde-se o poder da sedução, no sentido mais amplo do termo.

As mulheres já estão dentro do futebol, como torcedoras, como comentaristas ou como jogadoras. As escolas e clubes oferecem a modalidade desde cedo e as meninas se divertem e se exercitam, não há nada de errado nisso.

O problema é como sair do amadorismo e partir para a profissionalização sem violar as regras de outro jogo: o da natureza humana. Os investimentos no esporte só são compensados quando existe uma torcida entusiasmada. O futebol feminino entusiasmará um dia como o vôlei e o basquete feminino?

Não se trata de vestir as atletas com um uniforme mais decotado, o assunto é sério. Falo sobre a exigência de uma energia máscula e dos aspectos culturais que envolvem essa discussão no Brasil, um país que não é a Alemanha.

Ao meu ver, é este o grande desafio que nossas jogadoras terão que enfrentar - e espero que vençam - para escapar do cruel destino de talentosas halterofilistas e boxeadoras: a invisibilidade.

Ótima quarta-feira esta que marca sempre o Dia Internacional do Sofá. Que bom que ela existe e que a gente pode se encontrar, imaginem não fossem as quartas, o sábado e domingos ficariam tão distantes...

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