sábado, 20 de outubro de 2018


20 DE OUTUBRO DE 2018
CARPINEJAR

Nunca dê as costas

Uma exigência de casa me salvou. Um hábito simples determinou o meu jeitinho de amar. Para sempre amar enxergando, amar com coragem.

Todos os mandamentos de berço são os votos de Minerva em meus dilemas. Quando estou em dúvida em uma decisão, eu me inspiro naquilo que aprendi quando pequeno. A receita é imbatível. Não importa se trago uma boa ou má notícia, devo assumir a responsabilidade de mensageiro.

Sinceridade é pontualidade: deixar de comentar algo importante quando já se encontrou com alguém cria incontornável mal-estar:. Por que você não me contou antes?

Só me cabe a hombridade de não adiar, não distorcer e não enrolar: enfrentar os problemas com rigor, não dando desculpas, não se isentando da gravidade do que penso, não colocando a culpa em terceiros.

Educação é levar a sério o que os pais dizem. Eu não questiono, obedeço, eles são mais velhos do que eu e querem o meu melhor. Não nasci sabendo, malandragem é arrogância.

Minha mãe não me permitia conversar de costas para ninguém. - Nunca dê as costas quando fala. É afronta, é grosseria, é falta de respeito. Vivia corrigindo a minha postura diante de colegas e familiares. Meu quadril ficou firme como um poste. Era uma chatice que eu odiava na época e hoje faz muito sentido.

Ela pedia que eu ficasse em silêncio até me aproximar do interlocutor. A palavra tinha que esperar que estivesse finalmente frente a frente.

O conselho me serviu para fim de relacionamentos (jamais acabar uma história por telefone ou mensagem), na confissão de erros, na retratação de amizades. Tudo precisava ser resolvido presencialmente, cara a cara, para não restar dúvidas.

Tanto que a mãe não aceitava que eu conversasse de longe, zanzando pelos corredores ou confinado no quarto. - Deseja me dizer algo? Venha até aqui e me diga.

Ela costumava explicar que não me ouvia direito, um truque que me constrangia e me impedia de enganá-la.

Encarar a mãe tornava qualquer mentira complicada. Uma coisa é mentir pela boca, outra bem diferente é mentir pelos olhos. Não dou as costas para qualquer pessoa. Nenhuma pessoa é qualquer pessoa.

CARPINEJAR

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