sexta-feira, 1 de maio de 2015


Dia do trabalho

A história do trabalho humano é das partes mais lindas e interessantes da história da humanidade. Talvez seja mesmo a parte mais digna, honesta e bonita. Estão aí pirâmides, muralha da China, estádios à beira de rios, livros, bibliotecas, jardins, templos, catedrais, obras gigantes, pequenas casas em aldeias, represas, edifícios, arte, artesanato, tudo feito quase sempre por milhões de anônimos, geralmente mal remunerados.

Desde que Adão comeu a maçã e Deus o mandou ir atrás e suar um monte para comer, até o ócio criativo, o direito à preguiça, o lazer cultural e outras modernidades laborais, passando por lutas sindicais e revolução industrial, muita coisa aconteceu nestes milênios, especialmente a partir de 1886. Em Tempos Modernos, Chaplin deixou seu recado sobre o novo mundo trabalho, com suas linhas de produção, suas correrias e falta de humanismo.

Tripalium, instrumento de ferro ou de madeira com três pontas, usado antigamente na lavoura para separar cereal, teve sua utilização decaída e virou instrumento de tortura e, aí a triste origem da palavra trabalho, até hoje muita associada com pecado, punição, esforço, tortura, abuso e violência. No Brasil do século XXI, o trabalho escravo é objeto de uma PEC. Triste, mas não podemos deixar isso de lado, esquecer essa chaga no Dia do Trabalho. Desculpem.

1886, primeira grande paralisação de empregados nos EUA. 1889, Paris, enorme movimento de operários. 1891, 8 horas diárias de trabalho. Na Inglaterra da Revolução Industrial a frase revolucionária, verdadeira lição de vida e de luta: 8 horas de trabalho, 8 de diversão, 8 de descanso e 8 shillings por dia. Meu pai me ensinou esta frase, quando eu tinha uns dezoito anos, mas sem os 8 shillings, que as oito de trabalho eram de estudo.

1º de maio no Brasil virou feriado nacional só em 1924 com o Presidente Artur Bernardes. Nos outros países foi bem antes, como de costume nestas coisas. Nossa CLT, não por ocaso, foi promulgada no histórico 1º - 5- 1943. De lá para cá muitas conquistas, muitos avanços, especialmente no âmbito do trabalho doméstico, um setor que evoluiu muito, calmamente, sem tumultos, sem problemas maiores. Domésticos constituem a maior categoria profissional do Brasil.

Claro que há muito ainda por acontecer nas relações de trabalho no Brasil. Temos que evoluir. Tomara que aconteçam coisas boas. Muito diálogo produtivo entre as forças do capital e do trabalho seria um ótimo, desejável caminho. Não é fácil, nunca foi fácil a conversa entre o capital e o trabalho, nestes séculos de luta. Mas seria o melhor. Vamos torcer pelo melhor.

É sempre bom lembrar que na vida a relação com o trabalho é das mais longas que temos e é das que podem nos dar mais alegria e satisfações. É uma espécie de casamento com uma parte importantíssima da gente, um relacionamento com nossos setores produtivos e criativos, por aí. Que seja bom. Para nós e para os que estão perto.

a propósito...

O ideal seria que todo mundo trabalhasse com a seriedade e a alegria de uma criança brincando. Não é fácil. Pouquíssimos conseguem. Mais comum em áreas artísticas, de criação, atividades que envolvem sonhos infantis, aspirações profundas, e vocações inatas, difícil explicar. Bom pensar que mesmo num mundo onde a alta tecnologia por vezes aliena e faz os trabalhadores, solitários, conviverem até demais com as telas e o silêncio, sempre haverá momentos de pausa, olhar, conversa, abraço, cafezinho, chá, chimarrão e convívio indispensável. Se não houver, melhor exercer o direito à preguiça, ir para a praia e viver à base de peixe com banana.


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