segunda-feira, 26 de março de 2012



Seu cão salva vidas?

A doação de sangue, simples e indolor, pode ser a fronteira
entre a vida e a morte


"Precisamos de sangue." A saga marcou minha semana, e a ideia de que ela vai se repetir inúmeras vezes já começa a me dar arrepios.

Primeiro, foi para Nina - uma pequena vira-lata de nove anos que chegou ao hospital às pressas. Com a cavidade nasal tomada por um tumor agressivo, ela mal conseguia respirar. A única alternativa seria tentar uma cirurgia de emergência.

O problema é que os exames indicavam uma anemia preocupante -muitos tumores são verdadeiros sequestradores de glóbulos vermelhos. E a cirurgia, portanto, dependeria de conseguirmos sangue para transfundir à paciente.

Já estávamos às voltas com Nina quando chegou Naomi, a rottweiler mais doce de que já tive notícia. Submetida à retirada do baço (também pela presença de um tumor), ela passou a apresentar níveis baixíssimos de plaquetas - as células que impedem que a gente sangre sem parar. Com risco de sofrer hemorragias, a adorável grandalhona também precisava de uma transfusão.

Para cães e gatos intoxicados, atropelados, com doenças renais crônicas ou câncer em estágio avançado, a transfusão de sangue é muitas vezes a diferença entre a vida e a morte. Mas só há transfusão se houver sangue. E só há sangue se houver doador. Eis, então, uma sucessão de gargalos.

No caso dos cães, os doadores devem ser animais dóceis, jovens (até 8 anos) e de grande porte (mais de 25 kg), o que exclui todos os pequenos poodles, lhasas e afins - cada vez mais comuns nas grandes cidades -, restringindo os candidatos.

O segundo entrave é o dono. Responda rápido: você se habilita a sair de casa com seu grandalhão, que está bem de saúde, para ir a um hospital veterinário pensando em algum cachorrinho desconhecido que precise de ajuda?

E quando, felizmente, cães grandes pertencem a pessoas solidárias, o material coletado ainda passa por uma série de exames para garantir que a transfusão não prejudique ainda mais a saúde do receptor.

Por tudo isso, as reservas são normalmente escassas. E conseguir rapidamente as bolsas de sangue vira uma operação de guerra que envolve motoboys, táxi-dog, laboratórios e inúmeros telefonemas para os poucos serviços especializados, proprietários de animais de grande porte, outros hospitais e amigos.

E essa semana, cerca de três horas se passaram entre a internação de Nina e Naomi e o início da transfusão. Nunca achei que ficaria tão feliz ao ver um motoboy chegando com uma caixinha de isopor.

Cães têm 13 tipos de sangue (e gatos, três). Há risco de incompatibilidade, mas, em geral, ela só se manifesta em uma segunda transfusão.

Nina não resistiu à cirurgia. Naomi segue na luta. A doação -simples e indolor - foi, para a dócil rottweiler, a fronteira entre a vida e a morte. Nesse caso, deu tempo. O problema é que os pacientes nem sempre podem esperar.

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