sábado, 11 de fevereiro de 2012



11 de fevereiro de 2012 | N° 16976
NILSON SOUZA


As lágrimas do general

Um militar com nome de poeta protagonizou esta semana um episódio emblemático da vida brasileira. O general Gonçalves Dias, da 6ª Região Militar, comandava a operação de cerco à Assembleia Legislativa de Salvador, invadida por policiais grevistas.

Num dos momentos de tensão, ele discursou para os manifestantes e garantiu que não haveria combate, não haveria invasão e que tudo seria resolvido de forma pacífica. Como era dia de seu aniversário, ganhou um bolo dos grevistas e emocionou-se diante das câmeras da tevê.

No outro dia, foi afastado da missão pelo comando do Exército e substituído por um desses oficiais de fala empostada e camisa arremangada. General não chora, onde já se viu isto. O soldado é superior ao tempo. Missão dada é missão cumprida. Manda quem pode, obedece quem tem juízo. Decididamente, as lágrimas do general e seu discurso pacifista não combinavam com os chavões dogmáticos do militarismo.

Aprende-se muito na caserna. Estive lá por um curto período e considero a experiência valiosa na formação de um jovem. A disciplina, o espírito de tropa, o cultivo de hábitos saudáveis, os exercícios físicos, o fortalecimento moral e até mesmo a instrução militar são valores que ficam para toda a vida.

Mas também tem coisas ruins, como a humilhação de subordinados por superiores sociopatas, o culto da obediência cega e outros comportamentos autoritários que estigmatizam os quartéis.

Pelo sim, pelo não, cumpri o tempo obrigatório de serviço militar e pedi permissão para me retirar, batendo a devida continência. Aprendi a manejar armas e espero nunca mais colocar as mãos numa. Se a vida militar me ajudou a tomar decisões, esta é irrevogável.

Ouvi, muitas vezes, sob sol inclemente ou chuva torrencial e em posição de sentido, que o soldado é superior ao tempo. Não parecia. De vez em quando um mais frágil entre nós dava passos trôpegos e desabava no chão. O corpo humano, embora os jovens custem a acreditar nisso, tem limites. A mente e o coração também.

O general certamente não ganhou as suas estrelas chorando na frente dos superiores. Mas, como ensina o Eclesiastes, há tempo para todo o propósito debaixo do céu. E o tempo, só pode ter sido ele, amoleceu o coração do veterano militar. Os comandantes não gostaram.

Mas, se serve de consolo, brasileiros como esse escriba aplaudem o general emotivo. E, parafraseando o poeta que lhe emprestou o nome, ouso dizer: chorar pela paz, aos fortes e aos bravos, só pode exaltar.

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