sábado, 9 de abril de 2011



10 de abril de 2011 | N° 16666
MARTHA MEDEIROS


Histórias cabeludíssimas

Não acontece só com celebridades de revista: qualquer um de nós está sujeito a virar assunto de pessoas inventivas e de má-fé

Outro dia recebi um e-mail de uma amiga dizendo que havia escutado uma história cabeludíssima a meu respeito e que não via a hora de me encontrar e tirar a limpo se era verdade ainda que ela estivesse quase segura de que era mentira.

Respondi que ela poderia ficar inteiramente segura de que era mentira, fosse o que fosse, já que não costumo protagonizar cabeludices. Não em público.

Quando por fim nos encontramos, rimos muito. A história não tinha nem pé nem cabeça, mas o espantoso é que alguém havia jurado e sacramentado que era tudo verdade verdadeira. A fonte, quem era a fonte? Uma enfermeira amiga de não-sei-quem que me viu nos corredores de uma clínica não-se-sabe-qual fazendo nem-te-conto-o-quê.

A tal enfermeira não conseguiu acabar de vez com minha reputação – ufa –, mas fiquei pensando sobre como é fértil o mercado da fofoca. Sem que nunca tenham visto você, sem que nunca tenham trocado uma única palavra com você, divulgam um episódio venenoso a seu respeito e depois você que se vire para consertar os estragos. Não acontece só com celebridades de revista. Qualquer um de nós está sujeito a virar assunto de pessoas inventivas e de má-fé.

Sei que um mundo sem fofoca seria muito sisudo, que a fofoca é considerada uma falta leve, quase uma diversão, e que não há razão para se preocupar, já que são raros os casos em que ela denigre pra valer um sujeito. Mas é inquietante saber que há versões falsificadas de nós mesmos passeando por aí de boca em boca.

A maioria das pessoas comunga da ideia do “falem mal, mas falem de mim”. Sempre achei meio suspeita essa necessidade de ser notado a qualquer custo, de preferir ser esculhambado a ser ignorado. O que é que confirma nossa existência? O afeto que os outros sentem por nós e o respeito que sentimos por nós mesmos.

Preferir ter a existência confirmada por invencionices de quem não tem mais o que fazer me parece uma alternativa desesperada de se fazer notar. De minha parte, falem bem ou não falem nada: prefiro o desprezo verdadeiro a uma boataria depreciativa que evolui pelo telefone sem fio.

Agora, se me viram de chamego com George Clooney num iate em Ibiza, confirmo.

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