sábado, 8 de janeiro de 2011



08 de janeiro de 2011 | N° 16574
NILSON SOUZA


Qual dos dois?

Gosto de indagações. Esta que vem aí faz parte de um poema de Cora Coralina:

“Estavam ali parados. Marido e mulher.

Esperavam o carro. E foi que veio aquela da roça

tímida, humilde, sofrida.

Contou que o fogo, lá longe, tinha queimado seu rancho,

e tudo que tinha dentro.

Estava ali no comércio pedindo um auxílio para levantar

novo rancho e comprar suas pobrezinhas.

O homem ouviu. Abriu a carteira tirou uma cédula,

entregou sem palavra.

A mulher ouviu. Perguntou, indagou, especulou, aconselhou, se comoveu e disse que Nossa Senhora havia de ajudar.

E não abriu a bolsa.

Qual dos dois ajudou mais?”

De agora em diante é comigo, a poetisa goiana não tem culpa do que virá.

Os homens são assim, diretos, objetivos, confiantes. Acreditam que podem resolver qualquer situação intrincada com um estalar de dedos. Para que ficar ouvindo lamúrias se meia pataca é suficiente para aliviar a dor alheia e apaziguar a própria alma?

As mulheres não hesitam em compartilhar suas dores e as alheias, preferem as palavras ao gesto, a fé à fuga (ainda que a fé, nesta minha mente masculina, também possa ser uma fuga), a emoção à razão.

Nós somos práticos, elas são detalhistas. Nós vamos direto ao ponto, elas dão voltas. Nós jamais admitimos que estamos perdidos, elas perguntam onde fica o destino.

Aprendi que isso vem do tempo das cavernas. Nossos bisavós trogloditas saíam para buscar o alimento da família
Nós edificamos templos, fazemos guerras, governamos nações. Elas constroem sonhos, geram a vida e têm o poder da sedução. E ultimamente também governam nações.

Ainda cabe perguntar qual dos dois ajuda mais? Gosto de indagações, mas nem sempre tenho as respostas.

, tinham que se concentrar no caminho para poder voltar, tinham que apurar a vista para surpreender a caça, tinham que usar a força para se impor sobre as outras espécies. As mulheres ficavam cuidando das crias, providenciando a alimentação, conversando com as outras fêmeas enquanto seus companheiros não voltavam.

Desenvolveram a fala, o olhar periférico, múltiplas habilidades para fazer várias coisas ao mesmo tempo e esta imensa capacidade de expressar sentimentos que o poema singelo da senhora Cora escancara.

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