sexta-feira, 31 de dezembro de 2010



31/12/2010 e 01/01/2011 | N° 16566
NILSON SOUZA


Fábulas de 2010

Acabei de ler A Espécie Fabuladora, de Nancy Huston, que começa com a instigante pergunta de uma presidiária à escritora canadense: “Para que inventar histórias quando a realidade já é tão extraordinária?”. A resposta é o livro – e é imperdível. Não vou estragar o prazer de ninguém revelando o seu conteúdo.

Só peguei a pergunta como gancho para repassar nesta crônica o ano extraordinário que está terminando. Basta uma revisão superficial para constatarmos acontecimentos mais fantásticos do que em qualquer ficção.

Os terremotos também matam anjos, descobrimos logo nos primeiros dias, quando a terra tremeu no Haiti e os prédios desabaram sobre a nossa missionária da paz e das crianças desnutridas, a catarinense Zilda Arns. Depois, o Chile também tentou sair do lugar, sepultando centenas de pessoas.

Em seguida, aquele vulcão islandês que consome no nome todas as consoantes do alfabeto cobriu a Europa de fuligem, interrompendo as estradas do céu. Tão logo foram desobstruídas, um avião com 104 passageiros estatelou-se no Líbano – e dos destroços de ferro e fogo ressuscitou um menino holandês de nove anos, único sobrevivente deste enredo fantástico escrito pela realidade. E era só o começo.

É segredo, cantou a Unidos da Tijuca em seu enredo – e, num passo de mágica, em plena passarela, sem que a multidão percebesse, trocou a roupa das meninas bailarinas.

Enquanto a Espanha dava show de bola na terra de Mandela, mister WikiLeaks contava ao mundo que as tropas americanas não só detonaram civis no Afeganistão como também deixaram tudo registrado em documentos secretos. De repente, todos nos demos conta de uma nova realidade: não há mais segredo na era do iPad.

Mas ainda há muita intolerância. O Prêmio Nobel da Paz vai para... o chinês Xiaobo, inofensivo poeta, que apodrece numa prisão da ditadura porque ousou assinar um manifesto em favor de reformas democráticas em seu país.

Ano de contrastes, este: enquanto uma mulher é condenada à morte por apedrejamento, outra sai da clandestinidade para entrar na História do Brasil, pela rampa do Palácio do Planalto. Há, sim, luz no fim do túnel do obscurantismo.

A ela chegaram, depois de 77 dias de sepultamento em vida, 33 mineiros chilenos, protagonistas do mais emocionante resgate dos nossos dias e, provavelmente, de todos os tempos.

Chega ou precisa mais?

O ano confirmou a dúvida da presidiária: para que inventar histórias?

Well, chegamos ao último dia de 2010. FELLIZ ANO NOVO. Que em 2011, aconteça a realização de todos os seus sonhos.

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