quinta-feira, 8 de julho de 2010



08 de julho de 2010 | N° 16390
L. F. VERISSIMO


Costureiros

A Espanha costurou, costurou, costurou. Passou o jogo inteiro costurando. O que costuravam Xavi e Iniesta? O que costurava a Espanha? No fim foi revelado: a Espanha costurava a mortalha da Alemanha.

Mas não foi seu ataque costureiro que matou e empacotou a Alemanha. Foi sua defesa, que segurou o ataque alemão na hora do desespero final, seu meio-campo (Busquets espetacular), que engoliu o meio-campo alemão com Schweinsteiger e tudo, e um zagueiro, Puyol, que foi lá fazer o gol mortal.

Joachim Löw, técnico da Alemanha, tem o cabelo e a cara de quem estaria melhor numa mesa de café em Paris, discutindo filosofia. Dava para imaginá-lo, ontem, bebendo vinho e discorrendo sobre o Ser e o Nada. Com ênfase no Nada.

O cenário do jogo de ontem, o Moses Mabhida, em Durban, é o mais bonito dos estádios construídos para esta Copa. Mas sua vizinhança com um grande estádio de rúgbi que já existia e que, imagina-se, poderia muito bem ser adaptado para o futebol, faz dele também o exemplo mais evidente do desperdício de dinheiro que foi esta Copa, segundo seus críticos.

Outros estádios novos, como o da Cidade do Cabo e o Soccer City, aqui de Joanesburgo, também são belos monumentos à imprevidência. Não haverá publico para justificar seu gigantismo, nem para o futebol, nem para espetáculos musicais. Na remota possibilidade de a África do Sul voltar a sediar uma Copa do Mundo, eles estarão velhos, justificando outros estádios e mais desperdício.

Quem defende o investimento feito nos estádios alega que eles atingiram seu objetivo. A África do Sul provou que podia fazer a festa e impressionou o mundo, tanto com sua organização quanto com sua audácia arquitetônica. E, se ficam esses monstros ociosos na sua paisagem, bom, são monstros bonitos. E é próprio das grandes festas deixar detritos.

Por falar em ócio. Com os finalistas definidos, temos dois dias para pensar no que vimos aqui, fazer sumas e retrospectivas e, por assim dizer, o rescaldo da Copa. Esta é a minha sétima e, olha, não foi das piores que vi.

Tivemos jogos emocionantes e jogos de cortar o coração (não vamos citar nomes), lances brilhantes, lances embaraçosos (inclusive de juízes e bandeirinhas), tivemos o Maradona e tivemos, acima e ao redor de tudo, as vuvuzelas. E também será lembrado o que não tivemos: não tivemos o Cristiano Ronaldo, nem o Wayne Rooney, nem o Gourcuff, nem o Ribéry e nem, pensando bem, o resto do time da França. E a Itália, teria perdido o avião?

Domingo, outro projeto de trabalhos manuais espera a Espanha: costurar um saco para laranjas.

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