sábado, 3 de julho de 2010



03 de julho de 2010 | N° 16385
NILSON SOUZA


Atrás da Jabulani

As vuvuzelas espantaram minha mulher do sofá. Tenho visto os jogos da Copa sozinho quando estou em casa. Não que ela seja uma excepcional companheira para o futebol: o normal é que fique lendo as propagandas colocadas à margem do gramado enquanto arregalo os olhos para não perder os lances de gol.

Mas sempre é bom ter alguém para me ouvir quando discordo do árbitro ou aplaudo alguma jogada de habilidade – coisa rara neste Mundial em que inventaram uma bola com vontade própria.

Sou um veterano de Copas. Por obrigação profissional, mas também por gostar de esportes, estive presente nas competições da Argentina, da Espanha e da França. E acompanhei todas as outras com igual atenção, sempre em alguma Redação de jornal, atrás de uma máquina de escrever ou de um computador.

Nunca, porém, vi uma Copa com tantos detalhes como a atual: a tal supercâmera lenta é o grande gol deste Mundial. Os caras chutam torto, dão trombadas, erram em bola, mas a tecnologia maquia tudo e transforma o fiasco em espetáculo.

As imagens são incríveis: tufos de grama desprendem-se do chão, gotas de suor viram chuva depois de uma cabeçada, os rostos se contraem no esforço e resplandecem nas comemorações, o mínimo puxão de camisa ganha total visibilidade.

Nada escapa ao aguçado olhar eletrônico. Outro dia, as câmeras flagraram o treinador alemão colocando o dedo no nariz e protagonizando as cenas mais constrangedoras da Copa. Em compensação, as tomadas de público têm sido espetaculares. Mostram o colorido dos rostos pintados, as fantasias com as cores nacionais, as bandeiras, os torcedores exóticos e as torcedoras bem produzidas.

Aparecer no telão do estádio é a maior glória para qualquer torcedor. Há tanta coisa bonita e diferente para ver, que de vez em quando baixo o som e suplico a presença de minha companheira no sofá.

Esse jogo de concessões me faz lembrar uma anedota que circulou pela Redação outro dia, em plena Copa. Depois de 20 anos de matrimônio, casal vai ao psicólogo. Ele pergunta o que há e a mulher sai disparando: “Pouca atenção, falta de intimidade, vazio, solidão, não se sentir amada, ser relegada em função dos amigos, do futebol, não ser valorizada...”

O jovem e bem-apessoado terapeuta ergue-se, pede para a mulher ficar de pé, abraça-a e a beija apaixonadamente, diante do olhar desconfiado do marido. Em seguida, volta-se para ele e diz: “Isso é o que a sua esposa necessita pelo menos três vezes por semana. Pode continuar este tratamento?”.

O marido pensa um pouco e responde:

“Bem, posso trazê-la às segundas e quartas. Mas na sexta tenho futebol com o pessoal”.

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