sábado, 20 de junho de 2009


*Cristiane Segatto

Eles traem sem camisinha

Foram realizadas 8 mil entrevistas com homens e mulheres de 15 a 64 anos de todas as regiões do país.

No quesito fidelidade, confirmou o que todos nós imaginávamos: 21% dos homens casados ou que vivem com companheiras têm parceiras eventuais. Entre as mulheres, apenas 11% têm relações fora do casamento.

A diferença não surpreende. Nossa cultura tolera - e até enaltece - as escapadelas masculinas. Não faz o mesmo com as femininas. Mulheres que traem são punidas com a execração familiar e social. É comum encontrar matronas que protegem os filhos que pulam a cerca. Às filhas que fazem o mesmo reservam a mais dura censura.

Os números do governo apontam algo mais grave: os homens traem sem camisinha. A maioria dos casados que buscaram outras parceiras não usou preservativo em todas as relações. No grupo dos traidores, 57% dispensaram a camisinha.

Isso é criminoso. De uma ignorância atroz. De uma irresponsabilidade sem tamanho. Muitos desses homens são os mesmos que também não aceitam usar camisinha com as mulheres que vivem com eles.

Ou seja: pegam aids ou outras doenças sexualmente transmissíveis nas relações eventuais e levam para casa. Infectam a parceira de tantos anos, a mulher com quem dividem os melhores e os piores momentos da vida a dois, a mãe dos filhos.

Acho impossível exigir fidelidade de alguém. Embora seja fiel (que fique bem claro), tenho minhas dúvidas sobre se ela de fato garante a felicidade dos casais. Respeito, no entanto, é o mínimo que se pode exigir e esperar de um casamento. E respeito, entre outras coisas, é usar camisinha em todas as escapadelas.

Sempre que converso com alguma mulher que pegou aids do marido - o que é muito comum -- penso na crueldade que reside nessas histórias. A mulher não trai, resiste a todas as oportunidades de fazer sexo casual e é infectada dentro de casa porque foi tonta o suficiente a ponto de confiar no marido.

Segundo a pesquisa, 80% dos entrevistados (homens e mulheres) acham que ter parceiro fiel e não infectado reduz o risco de trasmissão do HIV. Esse nosso povo brasileiro, tão desconfiado de tantas coisas, está acreditando em fidelidade.

Eu, que já passei da idade de acreditar em histórias da carochinha, não acredito em marido fiel. Fiz um pacto com ele. Não transamos sem camisinha. Se ele for fiel como eu, estamos empatados. Se não for, estou protegida.

É esse pacto que as mulheres precisam começar a construir: camisinha em todas as relações - eventuais ou não. Entre as mulheres que traem, 75% não usaram preservativo em todas as relações eventuais. Ou seja: elas não exigem camisinha em casa nem na rua. Todos perdem.

Homens e mulheres maduros precisam ouvir as lições sobre sexo seguro que seus filhos e sobrinhos conhecem e aplicam. A pesquisa confirmou que os jovens usam mais camisinha.

Na faixa dos 15 aos 24 anos, 49% dos entrevistados disseram ter usado camisinha no último ano em todas as relações com parceiros casuais. O índice poderia ser mais elevado, mas não é exatamente ruim. Dos 25 aos 49 anos, caiu para 44%. Dos 50 aos 64 anos, despencou para 32%.

Não é fácil fazer esse tipo de pesquisa. Quando se trata de sexo, as pessoas costumam mentir descaradamente. Ainda assim, essa tentativa de flagrar o comportamento sexual do brasileiro convida a várias reflexões. Qual é a sua? O que você pensa sobre fidelidade e camisinha? Queremos ouvir a sua opinião.

*Repórter especial, faz parte da equipe de ÉPOCA desde o lançamento da revista, em 1998. Escreve sobre medicina há 14 anos e ganhou mais de 10 prêmios nacionais de jornalismoHomens casados traem. Mais do que as mulheres. Até aqui nenhuma novidade. O Ministério da Saúde divulgou o resultado da mais ampla pesquisa sobre o comportamento sexual do brasileiro.

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