sábado, 27 de junho de 2009



27 de junho de 2009
N° 16013 - NILSON SOUZA


Nomes

Catava bergamotas na banca da feira ecológica que frequento aos sábados quando um cidadão falante, que já vi por lá outras vezes, aproximou-se e puxou conversa. Ouvi com atenção os seus relatos e respondi com a civilidade característica daquele ambiente. Entre rúculas, berinjelas e tomates, as pessoas se tornam extremamente gentis. De repente, o homem me olhou fixo e perguntou:

– Qual é mesmo a sua graça?

Graça? Informei-lhe o meu nome, evidentemente, mas não achei a mínima graça naquela pergunta com cheiro de mofo. Ninguém faz uma pergunta dessas para um jovem. Imagino o que minha afilhada adolescente responderia se ouvisse questionamento semelhante:

– Hã? Isso se não saísse rindo.

E o pior é que o cidadão não se espantou com meu nome. Recebeu a informação com naturalidade. Ou talvez nem tenha ouvido, sei lá. Mas não pude deixar de pensar num recente texto que li a respeito da influência dos nomes na vida das pessoas, especialmente na vida profissional.

Dizem os especialistas que os empregadores pegam o currículo dos candidatos e se fixam imediatamente no nome. E aí já formam a primeira impressão, que pode ser definitiva. Se o nome é atraente para o julgador, o candidato já larga bem na entrevista. Se parece antiquado, não é incomum que o sujeito seja recebido com desconfiança.

Nomes realmente condicionam destinos, embora não exatamente da forma como gosta de registrar nosso imortal companheiro Moacyr Scliar. Ele costuma colecionar referências do tipo João Pontes para um engenheiro de obras ou Fernando Cura para um médico.

Já existe até livro sobre o assunto, provavelmente uma antologia de coincidências, pois ninguém coloca nome nos filhos pensando na futura atividade profissional do bebê.

No caso dos que levam a profissão no nome, normalmente o que conta é o sobrenome – o que remeteria a família inteira para o mesmo ofício. Antigamente ainda tinha algum fundamento: os sobrenomes eram formados pela profissão (Zé Ferreiro), pela procedência (Chico de Assis) ou por características especiais (Giuseppe Quattrocchi, um italiano que usava óculos).

Mas hoje o que predomina é o modismo e a força da mídia. Artistas de novelas, jogadores de futebol e modelos famosas reproduzem-se como coelhos nos cartórios de registros de nascimento.

E isso não condiciona nada: nenhum outro Édson tornou-se Pelé, nem qualquer Diego pode reivindicar a coroa de Maradona e vai levar alguns séculos para surgir outra Gisele. Ainda assim, os jovens que receberam esses nomes levam uma vantagem na vida: tão cedo ninguém vai perguntar-lhes qual é a sua graça.

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