sábado, 16 de maio de 2009



16 de maio de 2009
N° 15971 - NILSON SOUZA


A mensagem

O Papa depositou no Muro das Lamentações, em Israel, uma mensagem para Deus. Em tempos de internet, o sistema de comunicação escolhido pode parecer um tanto arcaico, mas ninguém duvida de que a mensagem tenha chegado ao destinatário.

Foi, na verdade, uma carta aberta, uma espécie de prestação de contas da visita do Sumo Pontífice a Jerusalém e um pedido de paz não apenas para a Terra Santa, mas para toda a humanidade.

Tudo muito apropriado, mas o gesto, fartamente documentado pelos jornais, me despertou uma curiosidade: que língua teria utilizado o Papa para se comunicar com Deus?

Cheguei a pensar que ele tivesse escrito o seu texto em latim, que é a língua oficial do Vaticano. Também supus que ele pudesse ter redigido em alemão, seu idioma natal. Ou até em aramaico, que era a língua falada por Jesus.

Mas não: fui pesquisar e descobri que Bento XVI escreveu a sua mensagem em inglês. Isso mesmo, o texto impresso num papel com o símbolo do Vaticano começava com uma saudação respeitosa, na inconfundível língua de Shakespeare: “God of all the ages...”

Inglês? Aqui embaixo, tudo bem. Afinal, esta língua virou o esperanto moderno, quem não sabe pelo menos arranhar algumas palavras acaba ficando fora do mercado. Está em todo lugar, nas vitrines das lojas, na música, no cinema e nos manuais de instrução de qualquer equipamento eletrônico.

Mas já terá virado língua oficial no céu também? Será que a prova do Juízo Final terá, ao menos, tradução simultânea?

Tenho um amigo tão antiamericano, que é bem capaz de trocar o seu passaporte para um lugar mais quente se souber que os anjos se comunicam apenas em inglês. Em compensação, fiz o meu próprio teste com uma colega de trabalho e recebi uma resposta inspirada. Perguntei-lhe que língua utilizaria para falar com Deus.

– A língua do coração! – me respondeu de bate-pronto.

Como estou no embalo das perguntas, aqui vai outra: Qual é a profissão mais estressante? Já pensei algumas vezes que poderia ser a minha, pois jornalista funciona como uma espécie de para-choque de más notícias.

Também não é a de policial, controlador de voo ou motorista de ônibus, que enfrenta trânsito ensandecido com aquela campainha no ouvido o tempo todo.

Minha amiga psicóloga me informa que recente pesquisa da organização para a qual trabalha apresentou uma resposta surpreendente para a questão: padres e freiras sentem-se mais pressionados do que profissionais de atividades reconhecidamente angustiantes. Diante da revelação, não resisti:

– Também, com um patrão perfeccionista, que não tira o olho deles nunca.

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