sábado, 24 de janeiro de 2009


Cristiane Segatto*

Modelo amputada está em estado gravíssimo. A culpa é nossa

O costume de recorrer a antibióticos sem necessidade ajuda a criar bactérias super-resistentes, como as que ameaçam a vida de Mariana Bridi Costa

A vida de Mariana está em risco por causa de bactérias que podemos ter ajudado a criarUma das histórias mais aterradoras produzidas pela imprensa brasileira nesta semana foi o caso da modelo capixaba Mariana Bridi Costa, de 20 anos. A moça sofreu uma infecção urinária provocada pela bactéria Pseudomonas aeruginosa.

O quadro agravou-se a ponto de provocar um desfecho trágico e incomum em casos como esse: a amputação dos pés e das mãos da bela morena que no ano passado havia conquistado o título de corpo mais bonito do mundo no concurso Miss Biquíni Internacional, realizado na China.

Mariana está entre a vida e a morte, internada no Hospital Estadual Dório Silva, em Serra, no Espírito Santo. Respira com a ajuda de aparelhos e faz hemodiálise. A família pede desesperadamente doações de sangue do tipo O negativo.

Os sonhos, a carreira e o melhor da juventude de Mariana foram interrompidos por um inimigo invisível que não pôde ser vencido. De quem é a culpa? É de todos nós.

Nosso hábito de tomar antibióticos para qualquer coisa está criando bactérias invencíveis. Elas resistem à maioria dos antibióticos ou a todos eles. São as temíveis superbactérias que vivem soltas por aí, prontas para causar estragos no corpo de quem esteja com as defesas um pouco enfraquecidas.

Quem toma antibiótico por conta própria assim que surge uma dor de garganta ou uma gripe, está fornecendo armas de alto calibre ao inimigo. Gripe, por exemplo, é causada por um vírus. O antibiótico não mata o vírus, mas pode matar as bactérias benéficas que vivem no nosso organismo.

Essas bactérias do bem competem pela sobrevivência com outras bactérias que adquirimos ao longo da vida. Se matamos as benéficas, as intrusas se multiplicam livremente e podem se tornar resistentes a todas as drogas. É o caso da Pseudomonas aeruginosa, uma bactéria banal encontrada na água, no solo, nos animais.

Ela pode estar em todo lugar porque precisa de poucos nutrientes e vive muito bem à temperatura ambiente. Quando entra no corpo humano não faz nenhum mal à maioria das pessoas. Desfilamos com o bicho por aí sem ter a menor idéia de que ele existe. Basta uma pequena queda na imunidade – uma redução dos glóbulos brancos no sangue provocada por “n” coisas, até mesmo um simples estresse –, para que a bactéria comece a provocar infecções.

Internada em Serra, no Espírito Santo, a modelo luta contra uma infecção que parecia banal, mas já levou à amputação

de seus pés e mãos Na maioria dos casos, os antibióticos ainda conseguem vencer a Pseudomonas. Os médicos precisam tentar combinações complicadas de drogas, mas conseguem reverter a situação antes que ela se torne tão grave quanto a de Mariana.

Cada vez mais, no entanto, surgem cepas que não podem ser vencidas. Elas resistem até mesmo à classe das polimixinas, consideradas o último recurso.

Nem o hospital, nem a Secretaria de Saúde do Espírito Santo informam quais antibióticos foram adotados na tentativa de combater a infecção sofrida pela modelo.

Também não foram divulgados detalhes sobre a condição de saúde da moça antes de chegar ao hospital e durante a internação. Em alguns casos, a resposta do organismo à infecção é tão intensa que provoca uma cascata de consequências graves que põem o organismo em risco.

Não se sabe se foi isso que aconteceu com a modelo. De qualquer forma, o sucesso do controle da infecção depende da condição de cada organismo e do grau de resistência da cepa que o infectou.

Por enquanto, sabe-se apenas que Mariana foi vítima de uma bactéria que não pôde ser vencida. Desfechos tão graves quanto o do caso dela não ocorrem a toda hora, mas a triste história da modelo convida a uma importante reflexão.

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