sexta-feira, 2 de novembro de 2007



02 de novembro de 2007
N° 15406 - Paulo Sant'ana


Animais solidários

De uma vez por todas, é preciso que a população de Porto Alegre saiba qual é o órgão destinado ao salvamento dos animais.

Segunda-feira passada, uma leitora me telefonou desesperada porque um pássaro estava preso numa fenda de um caule de árvore já fazia 48 horas e o Corpo de Bombeiros se recusava a ir libertar o animalzinho. Isso aconteceu numa árvore da Rua Tomás Flores. Do Corpo de Bombeiros, informaram que era caso para o órgão de proteção ambiental.

No órgão de proteção ambiental, informaram que era caso para o Corpo de Bombeiros, que, no entanto, encurralado, disse que só poderia tomar providências no dia seguinte, não atendiam esses casos à noite. Este é um país em que quem tem câncer no intestino entra em fila de cirurgia que demora três anos e em que Corpo de Bombeiros não trabalha à noite.

É melhor ir embora daqui.

Ontem Zero Hora mostrou a sorte de outro pássaro preso num poste da esquina das avenidas Panamericana e Quito, no Jardim Lindóia.

Um filhote de chupim, pássaro que costuma morar nos ninhos dos outros, ficou com a perna presa num fio de náilon, no alto de um poste elétrico, entre duas casas de joões-de-barro.

Foi um deus-nos-acuda para chamar um órgão que salvasse o passarinho, que estava de cabeça para baixo. Chama a CEEE e lá dizem que é com os Bombeiros. Chama os Bombeiros, não atende porque é em cima de um poste e, se é em cima de um poste, tem de ser a CEEE.

Até que o clamor dos populares, ansiosos pela salvação do pobre passarinho, fez chegar ao local uma equipe da CEEE.

Mas veio o pelotão de choque da CEEE, aquele que está melhor preparado para enfrentar brigas com moradores que furtam energia elétrica do que fazer consertos na rede.

E o que decidiu o Bope da CEEE? Escolheu entre duas alternativas, dinamitar o poste ou destruir a casa do joão-de-barro, a segunda. E pôs-se o Bope da CEEE, em vez de subir lá no ninho e libertar o pássaro, a destruir a casa do joão-de-barro, com uma barra longa acionada lá de baixo.

Rasparam, rasparam na casinha de barro até que a demoliram. E junto com a casinha despencou lá de cima o passarinho que estava com a perna presa. Espatifou-se no chão o chupim e morreu.

Que salvamento desastrado esse do pelotão de choque da CEEE. Por preguiça, não puseram uma escada e não foram lá em cima libertar o animalzinho.

Que idéia estúpida a de escarafunchar na casa do joão-de-barro até derrubá-la, e com ela o pássaro que estava preso e morreu estatelado no chão. Que tropelia, que operação desastrada! Que trágica trapalhada.

Terminou o casal de joões-de-barro ficando sem casa, vão ter de chamar o Demhab.

E terminou principalmente o pobrezinho do chupim morto.

Restou uma lição de solidariedade animal jamais vista em nossa cidade. Tanto no episódio da Rua Tomás Flores quanto no do Jardim Lindóia, os dois pássaros presos pelas pernas e pendurados de cabeça para baixo foram socorridos, no primeiro caso por dois dias, no segundo por várias horas, por pássaros de outras espécies, que lhes alcançavam alimentos em seus bicos.

Outras aves socorristas alimentando, bico a bico, as duas avezinhas em apuros. Que solenidade de ternura. Que humanidade entre os animais!

E ainda vêm me dizer incautos cientistas que os animais não têm inteligência.

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