quinta-feira, 18 de outubro de 2007



18 de outubro de 2007
N° 15392 - Nilson Souza


Dona Maria Olívia

Descobriram no Paraná uma velhinha com 127 anos. Segundo os parentes e os vizinhos, ela nasceu em fevereiro de 1880 - nove anos antes da Proclamação da República.

É duro de acreditar, mas os fiscais do Censo Previdenciário tiveram que engolir a desconfiança quando constataram que dona Maria Olívia estava viva, lépida e faceira em casa.

E com um histórico familiar impressionante: dois casamentos, 10 filhos naturais e quatro adotivos, memória suficiente para relatar suas andanças pela colheita de algodão e café no interior de São Paulo. Estava encantado com sua história quando li o comentário de uma de suas acompanhantes:

- O único pecado dela foi ter fumado até os 80 anos.

Aí tem mutreta, pensei, do alto da minha arrogância antitabagista. Mas os colegas fumantes não quiseram saber. Elegeram Dona Maria Olívia madrinha do fumódromo da Redação.

Não fui lá conferir, mas aposto que a página do jornal em que saiu sua fotografia está pendurada na parede do cubículo enfumaçado. Quem não fecharia este contrato? Você se diverte e comete excessos por oito décadas e depois ganha mais 50 anos para meditar sobre a vida que levou.

Com todo o respeito a dona Maria Olívia, exijo o teste do carbono 14. Não posso crer que a velhinha de Itapetininga tenha dobrado o Cabo da Boa Esperança há tanto tempo e ainda esteja aí para contar vantagem. Tem alguma coisa errada nesta conta.

Sei que a população brasileira está envelhecendo rapidamente, mas, a ser verdadeira a idade atribuída a ela, seria a pessoa mais velha do mundo. Como gosta de dizer o nosso presidente, nunca antes na história deste país se viu semelhante coisa.

Claro que não estou duvidando da reportagem nem da honestidade da velha senhora. Ela existe, foi entrevistada e fotografada. É provável até que tenha a sua carteira de identidade em dia, embora o texto não esclareça sobre isso.

Mas, num país em que se falsificam até ingressos de futebol, documentos não podem ser considerados prova definitiva. Testemunhas? Quem teria legitimidade para atestar sua verdadeira idade?

Torço para que ela tenha uma vida ainda mais longa e continue recebendo por muito tempo sua pensão previdenciária, mas reservo-me o direito de ficar com o meu ceticismo. Alguém se enganou nesta conta. Nem as tartarugas brasileiras vivem tanto tempo. E não fumam.

Uma excelente quinta feira de primavera a todos nós.

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